O cérebro dos psicopatas

O fascinante mundo do cérebro dos psicopatas

 Novas técnicas de imagiologia ajudam na investigação do cérebro psicopata para testar a tese sobre a base biológica. As técnicas de imagiologia, como a tomografia por emissão de positrões ou a ressonância magnética, vieram abrir portas desconhecidas do cérebro humano à neurobiologia. 

Empenhados em provar que a psicopatia é mais uma doença fisiológica, neste caso instalada no cérebro, do que uma doença social, cientistas de todo o mundo discutem entre si o ponto preciso de origem de tais desordens. O que diria, por exemplo, o neurologista português António Damásio do cérebro de um serial killer como o famoso Hannibal Lecter? Damásio defende, a par com outros especialistas, que a desordem biológica e social de que sofrem os indivíduos que tendemos a chamar psicopatas reside na área do córtex orbitofrontal, área do cérebro que faz parte do córtex pré-frontal onde, segundo Damásio, se desenvolvem as tomadas de decisão conscientes. Por isso, defende o especialista português, investigador na Universidade de Iowa, quando há uma lesão ao nível desta área, o indivíduo tem certos problemas de comportamento social e pode mostrar-se agressivo. 

Foi o que aconteceu com Phineas Gage, o capataz de caminho de ferro de que Damásio fala no seu livro O Erro de Descartes: o crânio de Gage foi perfurado acidentalmente por uma barra de ferro, que lhe danificou precisamente o córtex orbito frontal. Apesar de ter escapado com vida, Gage, que era um indivíduo normal, tornou-se num indivíduo desadaptado socialmente e bastante agressivo. «Cada vez mais dados nos levam a concluir que a psicopatia tem uma base biológica» disse Sabine Herpertz, psiquiatra da Universidade de Aachen, Alemanha, num artigo publicado a semana passada pela revista Science, sobre a evolução da ciência no estudo do cérebro de psicopatas, «uma das mais controversas fronteiras da neurociência», como defende o trabalho da jornalista Alison Abbott. 

De facto, já desde o século XIX que os cientistas tentam encontrar uma explicação biológica para explicar os comportamentos desviantes extremos, como acontece no caso dos psicopatas. Cesare Lombroso, célebre criminologista italiano que defendia que os criminosos eram inatos e não criados, achava que estes se podiam distinguir das pessoas socialmente normais pela forma dos crânios, teoria a que se convencionou chamar frenologia, e que teve vários partidários. A tese frenológica, que nunca foi comprovada cientificamente, acabou por ser desacreditada, depois de ter dado origem a algumas atrocidades sofridas na pele pelos ditos criminosos.  Hoje, as teses que defendem uma origem biológica para o comportamento psicopata dividem-se essencialmente em duas grandes teorias. A teoria defendida pela escola de António Damásio, entre outros, põe em destaque o papel do córtex orbitofrontal como área sensível no comportamento psicopata.

 Por outro lado, a teoria promovida por James Blair, do University College de Londres, que defendem que a amígdala, uma pequena área entre o córtex orbitofrontal, e o hipocampo encerram os segredos do comportamento desajustado e criminoso. Os defensores das duas teorias colocam ainda a hipótese destas poderem ser complementares: «O córtex orbitofrontal, responsável pelo pensamento, e a amígdala, responsável pelo sentimento, podem estar relacionadas», defende Blair. Poderão as novas investigações, com a ajuda das novas técnicas de imagiologia, levar até à raiz do mal? Até agora os estudos imagiológicos são inconclusivos. E muitos não acreditam que algum dia se consiga chegar a alguma conclusão: «Não acredito que a criminalidade seja o tipo de coisa que se consegue localizar. Não sei ao certo do que se anda à procura», defende John Marshall, neuropsicólogo da Universidade de Oxford. Mas António Damásio é mais crente: «Tal como é claro que a disfunção cerebral pode causar um comportamento social anormal, é importante que os cientistas descubram porque isso acontece. 

O cérebro humano é complexo, mas nós, cientistas, não devemos ter medo de querer sempre mais». Muitos ainda temem que estas teorias deem lugar a um caminho paralelo ao de Lombroso e a uma discriminação de indivíduos com base na sua fisiologia cerebral. Alexandre Castro Caldas, neurologista, não teme essa realidade: «Nunca devemos esquecer que as pessoas têm uma atuação de comportamento que evidencia ou não a sua psicopatia. A imagiologia só complementa essa observação», defende, explicando que uma alteração ao nível da fisiologia do cérebro não tem de ser geneticamente determinada: «Pode ser devida a um acidente, a uma doença, a uma inflamação». E há quem tema por outro lado que provar que a psicopatia é uma doença, com bases biológicas visíveis, dê origem à inimputabilidade dos assassinos: «Tal situação pode conduzir a alterações na lei, permitindo que o psicopata invoque inimputabilidade, e corre-se mesmo o risco de serem considerados doentes mentais, e de estes serem enviados para instituições em vez de irem para a prisão», refere o artigo da Science. Mas há também um aspeto positivo: imagine que um indivíduo era acusado de crimes que não cometeu e condenado à pena máxima. E se a imagiologia conseguisse, com base na sua estrutura neurobiológica, provar a sua inocência? Ficção científica? Sim, ainda. Quem sabe um dia não se tornará pura realidade? 

MACHADO, A. (2001). «O fascinante mundo do cérebro dos psicopatas». Público em linha, 24-03-2001. Disponível em: https://www.publico.pt/ [consultado a 29-10-2014].  FACULTADO PELA PROFESSORA DE PSICOLOGIA.


Reflexão:

Este foi um tema particularmente interessante, visto que, não fazia ideia que o cérebro dos psicopatas era diferente do nosso, quando ouço algum caso deles, pensava que o faziam por terem algum problema mas nunca associei ao facto de terem mesmo um cérebro diferente. Porém, não é por terem um cérebro de certa forma diferente, que se pode perdoar aquilo que fazem, muito pelo contrário.


Bibliografia:

MACHADO, A. (2001). «O fascinante mundo do cérebro dos psicopatas». Público em linha, 24-03-2001. Disponível em: https://www.publico.pt/ [consultado a 29-10-2014]. 


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